raízes suplantadas


II




Subverto a minha vontade numa escrita irreflectida. Tanto mudou.
Tanto esperei que mudasse. Tanto mudei.
Malparo numa composição impulsiva mas não prorrompida por emoções e sentimentos genuínos. Não. Cresci. Perdi.
Agora prefiro ocupar exíguos minutos numa premissa diferente, disfarçada, para disfarçar.
Uma percepção instintiva em que vão surgindo imagens que interpreto de forma irracional e assertiva.
Desfaço-me das antíteses. Mentira! Elas subsistem...
Fazem parte de mim, do meu pedaço de papel, que escrevo aqui e ali para eximir-me do que sinto. O que sinto?
Não interessa. Não é sobre isso que escrevo. Cansei-me de sentir.
Agora escrevo o que penso. Escrevo por mero sensualismo, por sentir saudade de me elevar e perder naquilo que nunca encontrei.
Escrevo.
Escrevo pela saudade de sentir a alma a ferver-me na pele.








I


Quantos olhos tens? O que tentas ver?
Nas tuas mãos sobrevoou um caracol. Foi espontaneo.
Consegues ver?
E agora disseste tudo, falaste com os olhos da tua morte. Mentiste, sabes que mentiste, porque és eterna como parece ser o brilho dos teus olhos que realça o teu ritmo, o teu toque... vidente, experiente sem o saberes.
Sabes o que tocas? Consegues tocar ou possuir?
Não, observas e captas momentos, pensamentos e fragmentos do que não sabes se existe. Mas tu o sentes. Sente-lo por fora. Sente-lo por dentro. E sentes no tempo que não existe para ti.
Revelo. Revelo o incógnito, manifesto o que desconheço, declaro porque procuro saber se o que se capta é meu.
E tu que me conheces tentas presenciar o melhor de mim... naquilo que não sei ser, sou eu sem me ver num reflexo sem fim.